"As Copas da Arrogância, do Ódio"
Texto Autorizado, Por Teixeira Heizer
"As diferenças de etnia vão amplificar-se durante a Copa do Mundo, opondo amarelos, negros, brancos e derivados em competições que se prenunciam fraternais. Delas pretende-se excluir alguns amargos ingredientes, mas vão avultar grandes distâncias de ordem econômica e social. A partir de 5 de junho, a geopolítica da bola será um campo fértil para antropólogos, sociólogos, filólogos, e a todos os que se dediquem a desvendar os mistérios, sobretudo os de origem ideológica e religiosa. Imagine-se a mulata e pobre Casta Rica batendo-se com a loira Alemanha, gigante da economia mundial, para exemplificar apenas o jogo de abertura.
Comunistas e socialistas enfrentarão os chamados democratas, emergentes estarão se batendo com os desenvolvidos, ricos lutarão contra os pobres, católicos se oporão aos muçulmanos. Crê-se que tudo ocorrerá dentro dos limites do esporte, deixando para trás acontecimentos que se constituíram em manchas à pureza dos jogos. Lá mesmo, onde a Copa se desenvolverá, a arrogância predominou. É só evocar o nazismo, quando a idéia de eugenia prevalecia e a política hitlerista se desenvolvia no sentido de vencer, a qualquer custo, para revelar a superioridade do arianismo.
Foi uma burrice a mais de Goebels e seus asseclas, a julgar pelo fato de que os germanos foram eliminados pela Suíça, sequer chegando à fase maior da competição. Usaram todos os recursos, até reforçar seu time com os melhores craques de Viena, após a anexação da Áustria, em 1938. Aliás, ali deu-se um dos episódios mais épicos da Copa do Mundo. O maior craque austríaco, Sindelar, negou-se a jogar pelos alemães. Forçado a fazê-lo, suicidou-se, numa auto-eliminação no mínimo patriótica. Pior foi o parceiro de Hitler, o ditador fascista Benito Mussolini - que exerceu pressão demoníaca sobre os jogadores italianos na mesma Copa de 38, na França. No dia da decisão, em Colombes, enviou ameaçadora mensagem aos seus jogadores: 'vencer ou morrer'.
E a ousadia dos campeões? Ao receber a taça das mãos de um perplexo presidente francês, Albert Lebrun, o capitão Giuseppe Meazza e seus companheiros esticaram os braços a frente e produziram a saudação camisa-preta. A história não para aí. Ao sul do Chuí, em 1978, o ditador argentino Jorge Vidella promovia a mais política das Copas, tentando camuflar os crimes de sua ditadura sangrenta. Enquanto em Nuñez, Kempes e seus companheiros laureavam-se, à curta distância, na Escola Mecânica de Armada, a tortura destroçava os heróis da resistência num massacre hediondo, que envergonhou o mundo. Há uma infinidade de exemplos que se refugiam nas nesgas dos tempos, todos comprovando que Pierre de Coubertin, no olimpismo, e Julles Rimet, no futebol, idealizaram grandes competições, capazes de unir os povos do mundo inteiro num abraço fraterno. Quimeras, como se vê nos fatos acima focalizados e em outros com gosto de sangue e cheiro de pólvora."
Texto publicado no caderno Ataque do Jornal O Dia, coluna Histórias da Bola.
Hoje, aniverssário de um mês do Noel. Ele merece os parabéns né gente? Uhu!