VII Projeta Brasil Cinemark
O Projeta Brasil é uma importante iniciativa da rede Cinemark Cinemas que visa democratizar e promover as produções cinematográficas nacionais. Este ano o projeto foi realizado na última Segunda-Feira (6/11) e envolveu mais de 300 salas da rede em todo o país que exibiram filmes nacionais cobrando apenas R$ 2,00 por ingresso. A renda arrecada com o evento será revertida para projetos de apoio e incentivo a produções do cinema nacional.
O Projeta Brasil contou com mais de 175 mil ingressos vendidos, superando em 25 mil os números alcançados no ano passado. Entre os filmes exibidos o mais visto foi Trair e Coçar É Só Começar, com 34 mil espectadores.
Esse evento caiu como uma luva para decretar de vez o meu retorno às salas cinema adiada desde o VI Projeta Brasil há mais de um ano. Antes que perguntem, já aviso que a minha intenção era fazer um post informativo e até convidativo antes do dia 6/11, dia do evento, mas infelizmente não foi possível.
Se este texto tivesse sido escrito na Terça-Feira, certamente o título seria "Ontem foi dia de Cinema" em alusão à mini série "Bobal" "Hoje é dia de Maria". Aliás, quem merece mesmo uma homenagem é "Maria", personagem central e quase real do filme "Anjos do Sol".
Ano passado eu só consegui assistir 5 filmes, desta vez eu elaborei melhor minha programação e pude incluir 7 filmes. Confesso que me sinto muito feliz na maioria das minhas escolhas. Abaixo segue a minha programação de filmes e um breve comentário muito pessoal sobre cada um deles.
Zuzu Angel - Começou 10h40 - Terminou 12h20 Sala 8 Meio Vazia
Primeiro filme e primeira decepção. Quando ouvi dizer que a bela história de Zuzu Angel iria ganhar uma versão cinematográfica, a princípio fiquei sorridente, mas quando soube que o diretor responsável seria Sérgio Resende, já passei a não esperar muito da película e pelo jeito estava certo. Não adiantou apelar para um elenco recheado de atores globais. Nada nem ninguém se salvou nesse filme. Nem mesmo Daniel Oliveira que ficou aprisionado em um roteiro que o reduziu a um mero coadjuvante.
Na primeira cena do filme Zuzu aparece sozinha escrevendo uma carta e dizendo que está com medo de morrer. Mas aí eu fiquei pensando: por que ela falou que estava com medo de morrer pra ela mesma? Será que só o sentimento não bastava e ela precisava botar isso pra fora? Não gostei. Achei totalmente sem nexo. Sem falar nos flashbacks da infância de "Tuti", apelido de Stuart Angel Jones filho de Zuzu Angel. As cenas não acrescentaram nada ao filme. São totalmente desprezíveis.
Para terminar, falo do final do filme. Pouco antes de morrer, Zuzu delira e vê seu filho em seu quarto. Ela passa a conversar com ele e resolvem dar uma volta no quintal. Até aí tudo bem, mas quando "Tuti" tirou um lenço do bolso e forrou num banco para sua mãe se sentar eu já achei estranho: qual fantasma vai andar com lenço do bolso? Pra quê? Pra soar o nariz?
Ainda não satisfeito, o fantasma de "Tuti" pega sua mãe no colo e a leva do quintal até a cama. Detalhe para a sombra dos dois na parede. Sei que em cinema tudo é possível, mas fantasma pegar gente no colo e fazer sombra na parede é sacanagem. Só tenho uma coisa a dizer: Porra! Quem está delirando é ela, não eu! Pra mim, Zuzu Angel não passa de uma história muito mal contada.
Se Eu Fosse Você - Começou 12h40 - Terminou 14h20 Sala 12 Vazia pois o filme já foi visto por quase 4 mi de espectadores.
Uma grata surpresa. Só entrou na lista por que sobrou este tempo entre "Zuzu" e "Cinema". Um maravilhoso filme de comédia. Não é a toa que Hollywood vai refilmar a história. Se Eu Fosse Você é um filme de comédia despretensiosa, irreverente, gostoso de ver. É sem dúvida um dos melhores trabalhos de Daniel Filho.
A dupla Tony Ramos e Glória Pires estão perfeitos em seus papéis, provando mais uma vez que são grandes atores. Eles souberam encarnar perfeitamente o espírito dos personagens. Tony até um pouco mais que Glória.
Pra quem não sabe, a história gira em torno de um casal que após uma noite de brigas, acorda em corpos trocados. A partir daí ficam num dilema incrível pois eles tem que continuar suas vidas e comparecer em importantes compromissos profissionais: Cláudio é publicitário e está envolvido numa campanha para uma marca de lingerie que pode decidir o futuro de sua agência; Helena é coordenadora de um coral infantil e está as vésperas de uma apresentação. Sendo assim, um encara o trabalho do outro e acabam acertando, cada um a seu modo. Uma bela idéia, um belo filme!
Cinema, Aspirinas e Urubus - Começou 14h10 - Terminou 15h40 Sala 9 Lotada
Mais autoral impossível. É um belo exemplo de cinema alternativo. O candidato brasileiro a uma indicação ao Oscar 2007 se passa em 1942 e conta a história de Ranulpho, um nordestino sem rumo que conhece um alemão que vem para o Brasil fugido da guerra e ganha a vida viajando pelo sertão nordestino vendendo Aspirinas e projetando filmes promocionais sobre o remédio "milagroso". Ranulpho acaba virando seu ajudante, companheiro de viajem e mais tarde seu amigo. Os dois passam por várias situações juntos. O diretor Marcelo Gomes consegue dar um bom ritmo ao filme e faz uma boa mescla de comédia, drama e romance.
Mas o meu grande destaque vai para a atuação do ator João Miguel. Ele faz de Ranulpho um personagem interessante e carismático. A cada aparição de Ranulpho na tela, por mais enfezada que fosse, o público soltava uma gargalha. Percebi que estavam todos maravilhados com o personagem e torciam por ele. João Miguel conduziu seu personagem com extrema maestria. Acho muito difícil Cinema, Aspirinas e Urubus ser indicado ao Oscar, mas se isso acontecer garanto que João Miguel e Ranulpho terão grande participação nessa conquista.
Ah! Não posso deixar de falar da cena em que a mulher que pede carona e acaba passando a noite nos braços do alemão sai do carro pela manhã arrumando os cabelos e caminhando de pernas um tanto abertas. Uma incersão sutil, uma piadinha infame que pouca gente na sala entendeu. A personagem foi interpretada por Hermila Guedes, melhor atriz do Festival do Rio 2006 por sua atuação em "O Céu de Suely".
Muito Gelo e Dois Dedos D'Água - Começou 15h40 - Terminou 17h20 Sala 10 Lotada
Muito Gelo e Dois Dedos D'Água é aquele filme que foi promovido pela Pantera, lembra? Até que a promoção tinha a ver, pois a vovó carrasca do filme passa a sofrer nas mãos das netinhas que abusam do direito de usar drogas ilícitas, inclusive para manter a velhinha dopada e fora de combate durante o filme todo.
Depois do ótimo Se Eu Fosse Você, Daniel Filho vem com essa comédia diferente, nada políticamente correta e que abusa de um erotismo desleixado. Confesso que gostei muito das cenas onde as irmãs louquinhas Roberta (Mariana Ximenes) e Suzana (Paloma Duarte) davam ataques de felicidade e tiravam a roupa a toda hora.
O filme é legal, mas não passa disso. As atuações até que são boas, quem ficou devendo mesmo foi Laura Cardoso. O meu destaque fica para a fotografia, os simples efeitos especiais e as cenas externas gravadas em Alagoas. Lindo estado de Alagoas. Que praias são essas, hein? Sorte do nosso amigo Aldemir Silva.
Não gostei da cena que Roberta chega no bar e pede um Whisky com muito gelo e dois dedos d'água. Foi claramente feita pra justificar o nome do filme.
Irma Vap - O Retorno - Começou 17h30 - Terminou 18h50 Sala 5 Meio Vazia
É chato! Não sei o que passou pela minha cabeça que me fez ter vontade de ver este filme. Écat! Quase dormi na sala. Carla Camurati é mais uma diretora que nunca acerta a mão.
Só o que salvou foi a grande atuação do sempre ótimo Marco Nanini e a perfeição dos efeitos nas cenas em que o ator contracenava com si mesmo, mas com personagens diferentes. Pareciam que eram pessoas diferentes.
A Máquina - Começou 19h40 - Terminou 21h20 Sala 11 Lotada
Inventivo que só! Filmaço! A família Falcão mandou muito bem! A direção de João Falcão é firme e consegue traduzir muito bem o roteiro de Adriana Falcão na tela grande. Gustavo Falcão é mais um jovem talento do cinema brasileiro e Mariana Ximenes mostrou que consegue se adaptar a qualquer personagem e manter uma boa regularidade.
"A Máquina" tem sem dúvida a trama mais elaborada, complexa e envolvente de todos os filmes anteriores, além de contar com elementos surpresa inquestionáveis, raramente vistos no cinema nacional. É um filme leve, romântico, lúdico. Uma história de amor avassalador com um amante incondicional que faz mover o mundo para realizar os sonhos de sua amada. Karina da Rua de Baixo e Antônio de Dona Nazaré são personagens encantadores. Mas não posso deixar de destacar o importante personagem narrador interpretado pelo veterano Paulo Autran. Quando forem assistir, deêm atenção à ele.
O filme é baseado na peça homônima de Adriana Falcão e é bastante leal quanto a isso pois tem toda uma atmosfera teatral, desde o cenário até a fotografia passando principalmente pelo figurino. Pra mim, o melhor filme junto com Anjos do Sol.
Detalhe: Antes de assistir A Máquina, eu fui lanchar na praça da alimentação do Downtown e me deparo com a atriz Fabiana Karla (a Gislaine de Zorra Total) ao meu lado e cercada de crianças. Assim que começou o filme eu me espantei. Advinhem quem interpretava a divertida Dona Nazaré, mãe de Antônio? Ela mesma, Fabiana Karla. E ela não foi a única que vi por lá naquele dia. Tinha mais duas gatinhas famosas: uma atriz que faz Páginas da Vida que assistiu ao filme do meu lado e uma apresentadora de esportes radicais do Esporte Espetacular, infelizmente eu não lembro o nome de nenhuma das duas. É meu amigo, esses são os benefícios de frequentar um cinema da Barra da Tijuca que aliás serve de cenário para o próprio filme, é nada mais nada menos que o "mundo".
Anjos do Sol - Começou 21h40 - Terminou 23h20 Sala 1 Lotada
Outro belo filme. Totalmente diferente dos outros. É um filme cru. Trata de problemas sociais importantes da realidade atual do Brasil, desde a falta de planejamento familiar até a prostituição, passando pelo analfabetismo, desemprego, falta de assistência médica em regiões isoladas, aliciadores, abuso sexual de menores, homens da lei que sustentam a situação, meninas que se prostituem por que querem, resistência ao uso da camisinha, Aids, turismo sexual... Embora o filme se passe em 2002, garanto que a situação é a mesma até hoje.
O filme nasceu a partir de uma notícia de jornal que falava sobre 50 Centavos, uma menina de 12 anos que vendia seu corpo ainda em formação por apenas 50 centavos para assim juntar dinheiro e comprar comida. Quem teve a idéia e resolveu transformar esse tema em filme foi o diretor estreante Rudi Lagemann.
A obra apesar de ser ficcional é baseado em fatos reais. Ele não se omite em nenhum momento. Desde o começo ele já tráz a tona um problema importante e é a partir dele que toda a história se desenvolve. A pequena Maria sofre do começo ao fim do filme. E justamente no final é que percebemos que o problema é generalizado e está muito, muito longe de ser resolvido, independentemente da região do país. Maria está fadada a ser puta. Seria cômico se não fosse trágico. A única forma que ela tem de ganhar a vida é vendendo o corpo.
Destaques para Antônio Caloni que encarna um cafetão nato e, claro, para Fernanda Carvalho que interpreta a sofredora Maria. Apesar de ter apenas 11 anos na época das filmagens, a atriz encarou um papel difícil e conseguiu dar conta do recado.
Um ótimo filme. Um verdadeiro retrado da exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. Pra mim, o melhor filme junto com "A Máquina".
Depois de todo esse texto sobre cinema, eu não faço idéia de quando voltarei a escrever sobre o assunto por aqui. Prefiro mil vezes assistir filmes que falar sobre eles.
Logo, logo, estarei respondendo aos comentários. Fiquem tranquilos. Abraço criancinhas.
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Achei uma puta parada bacana.
Abração broder.
Posted by Anônimo | quinta-feira, 09 novembro, 2006
Interessante seria que o governo levasse esses projeto para todo o país. Afinal, como diz a música "o povo não quer só comida..."
Posted by Anônimo | quinta-feira, 09 novembro, 2006
Oi Noel!´
Destes, só assisti "Trair e coçar" e "Se eu fosse você".
Amei o primeiro, dei muita risada... rsrsrs
Já o segundo, achei fantástico demais. Mas a temática é muito legal, nos moldes de "Do que as mulheres gostam".
Tava com tanta vontade de ver Zuzu Angel! Agora vc me desanimou... hunf! :(
Posted by Anônimo | sexta-feira, 10 novembro, 2006
Queria estar aí para ver o filme do Tony Ramos.
Posted by Anônimo | sábado, 11 novembro, 2006
O cinema nacional tão carente de atenção merece essa e muitas outras iniciativas como essa! Viva o cinema brasileiro!
Posted by Anônimo | segunda-feira, 13 novembro, 2006