Noel Entrevista: Domênico Massareto, o Young Brasileiro
Os primeiros 3 parágrafos contam a história de como essa entrevista se tornou possível. Se isso não te enteressa, passe para o próximo texto em negrito.
Durante as pesquisas para a matéria sobre o Cannes Lions 2006, eu conheci e gostei muito do trabalho de Domênico Massareto, Diretor de Arte da agência Africa. Eu acabei destacando os feitos de Domênico (ouro no Young Creatives de Cyber e prata no Cyber Lions) na matéria e falei sobre os elogios dedicados a ele por profissionais renomados da área.
O post acabou chegando ao conhecimento do próprio Domênico, ao que tudo indica, através de sua irmã, a também publicitária Carla Massareto que, inclusive, comentou a matéria em questão. A partir daí, os contatos foram feitos e hoje eu orgulhosamente lhes apresento uma entrevista bastante incentivadora com o Young Brasileiro, Domênico Massareto. A entrevista aborda desde quando ele decide qual curso faria na faculdade até seu indiscutível sucesso atual.
A intenção inicial era selecionar as perguntas e respostas mais pertinentes e postá-las aqui no blog. Mas a entrevista ficou tão boa que eu não consegui escolher nada e resolvi postar a entrevista na íntegra. São exatamente 29 perguntas e promessa de boa literatura para todos. Mas pra quem quer ser publicitário a leitura passa a ser obrigatória!
Leiam sem nenhuma moderação! Obrigado pela atenção, Domênico.
Noel: Seguindo a máxima da maioria dos adolescentes que sentem dificuldade para escolher suas futuras profissões, eu lhe pergunto: com você também foi assim? Quando você decidiu que iria ser publicitário? Ainda mais: como você soube que tinha talento para ser publicitário?
Domênico: Até hoje não sei se tenho talento para ser publicitário e pra ser sincero, nunca escolhi uma profissão. Sempre fiz coisas que eu gostava e arranjava uma forma de ganhar algum dinheiro com elas. Já fiz CD Roms, jogos de vídeogame, trabalhei com edição de filmes, efeitos especiais, fiz trilhas sonoras e já fui professor de Kung-Fu - deve ter mais coisa que eu não estou lembrando.
Meu pai foi publicitário por vários anos e apesar de gostar do ambiente de agência, nunca tinha pensado em trabalhar com isso. Em 2002, tive a sorte de ir parar dentro de uma agência cheia de pessoas interessantes e trabalhar exclusivamente com publicidade. Me apaixonei e estou nisso desde então.
Noel: Você imaginava que essa escolha daria tão certo?
Domênico: Sempre espero o melhor de cada escolha que faço, mas sem nunca esquecer de estar preparado para os imprevistos. Tem funcionado bem nesses últimos 28 anos.
Noel: Se você não fosse publicitário, qual seria sua profissão e por quê?
Domênico: Hoje em dia, Chef de cozinha. É uma outra forma de unir arte e técnica com um propósito objetivo. Nesse caso satisfazer e nutrir.
Noel: Você se formou em qual Universidade?
Domênico: Sou formado em Cinema pela Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo.
Noel: A escolha de uma Universidade de tradição em determinado curso é sempre muito importante. Isso também pesou na sua escolha?
Domênico: Eu acredito que as universidades servem como pontes para que consigamos chegar a outros estágios de conhecimento. Nelas existem professores, bibliotecas, filmotecas, laboratórios e muita gente interessada em assuntos em comum. É um ambiente muito empolgante, pricipalmente para quem adora aprender - o que é o meu caso. Sempre fui curioso e tento aprender com tudo e com todos.
Noel: No decorrer dos períodos, através dos trabalhos, projetos e afins, os professores e os outros alunos já te apontavam como uma promessa? Você já se destacava entre os universitários?
Domênico: De certa forma sim. Uma vez, tive que apresentar um seminário, mas como era muito tímido na época, criei um personagem e fiz um desenho animado de cerca de 12 minutos. Esse personagem apresentou o seminário enquanto eu fiquei sentado na minha carteira. A apresentação foi um sucesso e tanto professor como alunos começaram a me tratar de uma forma diferente desde esse dia. Como se eu fosse um "profissional da área". Tirei 10.
Noel: Nessa profissão acontece, às vezes, de você acabar trabalhando ou até disputando uma conta ou um prêmio com um ex-colega de classe. Isso já aconteceu com você? Os seus colegas de curso também obtiveram êxito na profissão? Poderia citar alguns exemplos?
Domênico: Nunca cruzei com nenhum dos meus colegas de classe no ambiente de trabalho. É uma pena, pois muitos deles são extremamente talentosos.
Noel: Publicitários recém formados vivem batendo de porta em porta de agência com portfólio à tira-colo. Com você também foi assim ou rolou um convite?
Domênico: Fui convidado por uma agência de publicidade exatamente por não ser publicitário. Era formado em cinema, músico, programava algumas linguagens de computação e segundo eles era bastante criativo e trabalhava com rapidez. Eu carregava um CD comigo que não tinha nenhum anúncio. Apenas animações, programas de computador e músicas que eu mesmo fiz.
Noel: Sabemos que publicitários rodam de agência em agência ao redor do mundo. Ainda mais quando esse profissional tem talento reconhecido pelo mercado. Você também rodou por muitas agências até chegar à Africa ou não? Qual foi a primeira que você trabalhou?
Domênico: Em publicidade, minha trajetória foi:
2002 - Diretor de Arte da agência Grottera
2003 - Diretor de Arte da TBWA2005 - Coordenador Criativo do núcleo de publicidade online da AgênciaClick
2006 - Diretor de Arte da Africa.
Noel: E como foi essa chegada até a Africa? Você está lá há quanto tempo?
Domênico: Estou lá desde fevereiro de 2006. Pouco tempo ainda. Mas fui recebido maravilhosamente bem. Todos lá são muito experientes e alguns eram pessoas que eu sempre julguei como sendo lendas do mercado. Poder trabalhar com eles é um privilégio. Estou aprendendo muito.
Noel: Já trabalhou em alguma agência no exterior? Como foi a experiência?
Domênico: Nenhuma experiência significativa. Gostaria de trabalhar com alguns profissionais que estão hoje em Nova Iorque e Londres.
Noel: Por que você decidiu especializar-se na área de Web? Você sempre gostou e calhou de virar profissão ou você percebeu que era necessário este tipo de profissional no mercado publicitário nacional?
Domênico: Acho que meu perfil multimídia se encaixou melhor nessa área. Hoje em tenho criado para todos os meios.
Noel: Qual a campanha em que você mais gostou de trabalhar? Teve alguma que ficou marcada na sua memória?
Domênico: No ano passado eu fiz o lançamento do Fiat Idea na internet. A campanha era enorme e eu estava dirigindo uma equipe bem grande. Foi divertido e atingimos resultados altíssimos. O cliente ficou muito feliz. Depois disso, inscrevemos a campanha em alguns festivais e ela faturou muitos prêmios.
Noel: Um dos pesadelos dos publicitários é a falta de ousadia e o excesso de conservadorismo das empresas. Você sempre teve liberdade para criar o que lhe viesse a cabeça ou algumas empresas lhe imporam condições? Como você lida em situações como essas?
Domênico: Criar não é necessariamente fazer o que vem a cabeça. Eu sempre crio pensando na solução do problema do cliente. Eu digo o que ele quer, mas de uma forma criativa. Assim ele nunca reprova minha criação.
Noel: Durante nossa tragetória, sempre conhecemos profissionais com os quais aprendemos muito e acabamos virando verdadeiros fãs. Qual profissional você mais gostou de trabalhar e qual sempre foi seu ídolo se tratando de publicidade?
Domênico: Existem vários profissionais que considero monstros da criação publicitária. Cito prontamente Gerry Graff, David Lubars e Nizan Guanaes. Com o terceiro tenho trabalhado nos últimos 6 meses e essa experiência tem sido extremamente enriquecedora. Entretando a pessoa que mais me ensinou sobre criação até esse ponto da minha carreira foi José Luiz Mendieta Filho, um dos melhores diretores de criação que já conheci e sem dúvida alguém com quem eu trabalharia de novo sem pensar duas vezes.
Noel: Sua companheira de trabalho, Suzana Apelbaum, Diretora de Criação lá da Africa, se mostrou muito feliz com suas premiações em Cannes nas entrevistas cedidas ao site Propaganda e Marketing. Ela estava sempre transmitindo muita confiança no seu trabalho. Qual a participação de Suzana na sua vida profissional?
Domênico: Tenho 3 diretores de criação lá na Africa e a Suzana é uma delas. Ela é uma pessoa completamente multimídia, pensa 1000 coisas ao mesmo tempo e trabalha numa voltagem próxima aos 880volts. Trabalhar com ela é divertido.
Noel: Agora, um belo clichê. Qual foi a peça que você olhou e disse: "Nossa! Queria que essa idéia fosse minha!"
Domênico: Ahhh tem vááárias. Mas uma delas é sem dúvida a nova propaganda da televisão Bravia da Sony. Foi leão de Ouro em Cannes esse ano. É um filme belíssimo, emocionante e diferente de tudo que temos visto ultimamente na propaganda. Quem quiser ver, acesse: http://www.bravia-advert.com/commercial/braviacommlow.html
Noel: Agora sobre seus prêmios. Quais foram os mais importantes para você? Qual é a sensação de ser premiado nos festivais mais conceituados do mundo?
Domênico: Sem dúvida os leões e a medalha de Young Creative de Cannes. Todas as vezes que ganhei, fiquei meio em choque. Demora uns dias até cair a ficha de que você ganhou. Agora o que mais mexeu comigo foi logo depois de ter vencido pela primeira vez, imaginar que pessoas do mundo todo estavam vendo meu trabalho no site de Cannes e pensando que um dia gostariam de fazer coisas como aquela.
Noel: Como você ficou quando recebeu a notícia destes dois últimos leões de Cyber em Cannes? Foi muita surpresa ou você já esperava?
Domênico: Esse ano foi diferente. Eu estava lá em Cannes. Não tinha tanta expectativa, porque as coisas iam acontecendo e eu já sabia na hora. É diferente de estar do outro lado do mundo, esperando por notícias.
Noel: Ganhar prêmios é sempre muito bom. Mas você acha fundamental?
Domênico: Até hoje os prêmios fizeram duas coisas por mim: me ajudaram a acreditar que meu trabalho tem sido feito de uma forma correta e consistente e me ajudaram a prosseguir no desenvolvimento da minha carreira. Foram fundamentais para que eu chegasse onde estou hoje, mas não significa que apenas ganhar prêmios vai transformar alguém num profissional melhor.
Noel: A Africa anunciou amplamente que pretende chegar com força para disputar o Cyber Lions de Cannes 2007. Sendo assim, como será a sua participação nas criações das campanhas feitas pela agência a partir de agora?
Domênico: Como tenho bastante experiência em propaganda interativa, minha principal missão é ajudar toda a agência a entender esse novo meio.
Noel: Existe alguma campanha que você tenha feito recentemente e acha que ela fará uma promissora presença no circuito dos festivais?
Domênico: Aposto muito numa campanha que estou criando nesse momento. Mas por enquanto é segredo.
Noel: Quando você cria uma peça você já pensa em um provável prêmio ou somente em como ela funcionará com o público e na satisfação do cliente?
Domênico: Sempre começo pensando no impacto do trabalho no público, pois isso é o que realmente importa. Se sair da forma correta, o resto vem por consequencia.
Noel: Nesses anos de trabalho intenso nas agências, o que de mais importante você aprendeu?
Domênico: Tudo o que precisamos para fazer o melhor trabalho do mundo, está em nossas mãos. Basta fazer.
Noel: O que você espera para o mercado publicitário no futuro? O conceito de lovemark será estendido para todas as empresas? A integração entre as mídias será imprescindível para a veiculação de uma campanha?
Domênico: Muitas teorias, tendências e previsões sobre o futuro da propaganda são feitas todos os anos. Eu gosto de pensar o seguinte: a publicidade é feita para o consumidor. O consumidor muda. O contexto sócio-cultural no qual ele está inserido também. Sabendo-se isso, basta acompanhar a mudança. E para saber mais sobre essas mudanças basta olhar para si mesmo e tudo que está ao seu redor.
Noel: Você ainda é bastante jovem, tem apenas 28 anos e uma vida longa pela frente. Você já tem planos para o seu futuro profissional e pessoal?
Domênico: Há 10 anos atrás, o cargo que ocupo hoje, não existia, por isso não arrisco a fazer previsões mais longas do que 2 anos. Pessoalmente gostaria de começar a me envolver mais com a criação de conteúdo. Criar personagens, histórias e um formato inovador para veicular essas coisas.
Noel: Você pretende ter sua própria agência no futuro?
Domênico: Por enquanto não penso nisso.
Noel: O que você diria para os jovens, como eu, que pretendem ser publicitários um dia?
Domênico: Não esperem muito para começar, pois vcs ficariam surpresos em saber a idade das pessoas por trás das maiores campanhas do mundo. Estudem sempre e sejam disciplinados, pois sem essas duas coisas o caminho será definitivamente mais complicado.
Noel: Estamos chegando ao fim da entrevista. Mas antes, você poderia deixar um recado para os leitores do Blog do Noel que acompanharam esta sua entrevista até o fim?
Domênico: Vejam se o que eu disse faz sentido para vocês. Aproveitem o que quiserem e desconsiderem o resto. Quando estamos na busca do aprimoramento escutamos muitas coisas e não sabemos exatamente o que seguir. Se tem alguma coisa aqui que eu gostaria que ficasse para cada um é: trilhem seus próprios caminhos, pois os caminhos que já foram percorridos não levam a lugares tão interessantes.
Obrigado pela atenção.
Obrigado pelo espaço.
Show de bola essa entrevista, parabés Noel. Dá pra tirar muita coisa provetosa dela.
Posted by Anônimo | quinta-feira, 27 julho, 2006
Parabéns pela entrevista! Boa mesmo!
Posted by Anônimo | sábado, 29 julho, 2006